Código Florestal: O debate de alta octanagem na rede 17/05/2011
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Extraído do Vi o Mundo.
por Luiz Carlos Azenha
Não, não acreditamos que o agronegócio seja culpado de todos os males do mundo. Nem do mundo, nem do Brasil.
Porém, não podemos fechar os olhos para a conjunção de vários fatores políticos e econômicos que se dão neste exato momento:
1. Grosso modo, concordamos com a avaliação de João Pedro Stédile, do MST, segundo a qual existe uma aliança do setor financeiro com um punhado de empresas que controlam o setor de sementes, agrotóxicos e fertilizantes (Monsanto, Sygenta, Bayer e assim por diante), em parceria com empresários brasileiros, que pretende ampliar o espaço de produção no Brasil. O objetivo é o lucro, nem sempre considerando o interesse público na preservação ambiental, na qualidade da água, no fenômeno do assoreamento dos rios, na sustentabilidade dos projetos e na biodiversidade, sem dúvida a maior riqueza do Brasil. Este não é um processo local: há uma imensa demanda por terras na África, por exemplo. Investidores da península arábica estão arrendando vastas áreas da Etiópia com o objetivo de produzir alimentos para exportação, por exemplo. As consequências são as de sempre para as populações locais: invasão de terras comunitárias, expulsão dos pequenos e médios agricultores, inchaço das cidades, concentração de renda.
2. Acreditamos que, justificada como obra que vai levar água a 12 milhões de brasileiros pobres, a transposição do rio São Francisco servirá também à incorporação de terras do Nordeste ao agronegócio exportador, cujo objetivo primário é abastecer as mesas europeias. Nada de errado nisso.
3. Os grandes projetos de monocultura enfrentam forte resistência nos países “centrais”, devido à degradação ambiental e à própria qualidade dos alimentos produzidos. Já falamos, aqui, do documentário Food Inc., que recomendamos fortemente aos que ainda não assistiram. Não, não se trata de “frescura” de ecochatos, mas daquilo que você e seus filhos comem. [Quer saber o que tem na água que você bebe? Clique aqui] A preocupação crescente com a qualidade dos alimentos e com a preservação ambiental faz com que se repita, na agricultura, o que já aconteceu na indústria: a exportação da produção “suja” para as novas fronteiras do agronegócio. Com a vantagem de que nós, brasileiros, ainda não cobramos pela água embutida na exportação agrícola, um bem comum devidamente privatizado em cada tonelada de soja que alimenta os porcos estrangeiros (sem trocadilho, please). Europeus e norte-americanos, em breve, vão nos exportar morango orgânico, de alto valor agregado. Simples assim.
É nesse contexto que temos tratado, neste espaço, do novo Código Florestal. Alguns leitores reclamaram do fato de que não ouvimos o deputado Aldo Rebelo, do PCdoB. Entendemos que o deputado dispõe do apoio de milhares de pequenos proprietários, ansiosos em relação a futuras exigências legais — um caso concreto, do qual tratamos, está aqui. Acreditamos que o deputado já dispõe de amplo espaço para manifestar suas opiniões, inclusive na grande mídia. Mas como prezamos a opinião de nossos leitores, envidaremos esforços para ouví-lo nos próximos dias. Por outro lado, celebramos a diversidade na blogosfera e rejeitamos a transformação deste espaço em quarto de despejo para querelas que não é de nossa alçada esclarecer.
Para saber o que pensam as sociedades científicas a respeito, clique aqui.
Depois, quem vai pagar a conta?
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