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Impactos ambientais dos lavajatos 27/02/2012

Posted by Afauna Natal in Fiscalização Ambiental, Meio Ambiente Urbano, Poluição das águas.
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Fonte: Extraído da pesquisa “Impactos socioambientais dos lava-jatos em uma cidade de médio porte“.

São lavados em média 2.000 carros, 35 caminhões e 40 motos por semana nos 40 lava-jatos pesquisados na cidade. Em período chuvoso, a procura pelos serviços é menor. Esse e outros fatores fazem com que a quantidade de veículos seja variável, caracterizando os lava-jatos como uma atividade de demanda flutuante. Dos estabelecimentos pesquisados, o maior percentual (27,5%) lava uma média de 40 veículos por semana, como se observa na tabela 1. A quantidade de veículos lavados depende da localização, da estrutura e da solidificação dos lava-jatos. Aqueles que estão iniciando as atividades, sem uma boa localização e estrutura, atendem a uma baixa demanda, lavando uma média de 10 ou 15 carros por semana (tabela 1).

Tabela 1 – Número de veículos lavados por semana nos lavajatos pesquisados

Na cidade de Campina Grande (PB), em mais da metade dos lava-jatos pesquisados (52,5%) não é feito nenhum tratamento dos efluentes, e os poluentes são lançados diretamente no sistema de esgotamento sanitário, no sistema de drenagem pluvial ou então no solo. Os outros lava-jatos (47,5%) adotam um sistema de separação física do óleo presente no efluente em que se utilizam caixas de areia; tal procedimento funciona apenas como um paliativo para minimizar os impactos causados ao meio ambiente, porque a parte solúvel do óleo e outros contaminantes solúveis na água não ficam retidos nesse tipo de filtro. Este retém parte do óleo (que fica impregnado na areia do filtro) e o material pesado advindo da lavagem dos veículos, como a areia. Além disso, a falta de manutenção correta da caixa de areia – ou seja, a não substituição da areia saturada de óleo – faz com que ela não o retenha, e a areia impregnada de óleo torna-se um passivo ambiental. Nesta pesquisa, constatou-se que o material contendo óleo e também resíduos de outras substâncias é disposto, geralmente, em terrenos baldios. O óleo e outros derivados de petróleo possuem substâncias recalcitrantes para o meio ambiente que podem causar vários danos ecológicos e também afetar a saúde dos seres humanos, por serem tóxicas, bioacumulativas, carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas (CETESB, 2005).

A Resolução CONAMA nº 357, de 2005, estabelece que os óleos e graxas devem estar virtualmente ausentes das águas superficiais. A mesma resolução, no seu artigo 34, determina que os efluentes de fontes poluidoras com óleos e graxas minerais somente poderão ser lançados direta ou indiretamente nos corpos receptores se tiverem no máximo até 20 mg/L do referido poluente. Os lavajatos pesquisados não fazem a análise química dos seus efluentes para a averiguação desse parâmetro.

Hoje, é de vital importância para a empresa fabricar produtos ou prestar serviços de modo não degradar o meio ambiente, sendo tal postura também um fator de competitividade para os negócios. A empresa que mantém uma imagem limpa conquista a simpatia da  comunidade onde atua, além de evitar multas e punições por parte dos órgãos fiscalizadores (SEBRAE, 2003).

Distribuidoras, postos e armazenadores de combustíveis, lava-jatos, oficinas e afins oferecem risco ambiental e, por isso, devem desenvolver as suas atividades de acordo com os padrões de segurança para o meio ambiente e para as pessoas. Para tal devem cumprir as leis ambientais existentes e procurar soluções que cada vez mais minimizem os impactos causados ao meio ambiente.

A quantidade de água empregada na lavagem de um veículo (tabela 2), segundo os proprietários dos lava-jatos pesquisados, depende da sujeira dele, como também da potência da bomba compressora. As bombas domésticas, utilizadas por 5% dos lavajatos pesquisados, têm um jato menor e, portanto, gastam menos água. Condições como essas possivelmente justificam o fato de os proprietários, que responderam sobre a quantidade de água gasta na lavagem de um veículo, informarem uma média na amplitude de 490 litros, portanto muito alta. No entanto os proprietários que compram água em carro-pipa (7,5%) disseram gastar uma média de 73 litros na lavagem de um carro; essa é uma informação mais precisa, uma vez que eles têm controle sobre o volume de água comprado e utilizado na lavagem dos veículos. Dos entrevistados, 40% alegam não saber quantos litros de água gastam na lavagem dos veículos, por se tratar de água de poço; assim, eles não têm nenhum controle sobre o volume de água utilizado e/ou o volume de efluente gerado, embora outros proprietários, que também utilizam esse tipo de água, tenham estimado a quantidade.

Tabela 2 – Volume de água utilizado na lavagem de um veículo

As empresas dependem do meio ambiente para retirar os insumos de que precisam para a execução das suas atividades e, como parte de sua responsabilidade social, devem usá-los racionalmente, como a energia, a matéria-prima e a água. Tal atitude não só contribui para a preservação ambiental como também representa economia para a empresa, aumentando as suas chances de sucesso. Na medida do possível, os materiais devem ser reciclados ou reutilizados, como a água usada na lavagem dos veículos em lava-jatos, a qual, passando por um tratamento, pode ser reutilizada na mesma atividade. A quantidade de detergente empregada na lavagem dos veículos nos lava-jatos pesquisados é apresentada na tabela 3.

Tabela 3 – Quantidade de detergente utilizada na lavagem de um veículo

Como podemos observar na tabela 3, dos lavajatos pesquisados, 32,5% utilizam uma média de 0,1 litro de detergente na lavagem de um carro, e 25% deles fazem uso de uma média de 0,2 litro. A soma desses dois percentuais dos lava-jatos pesquisados é igual a 57,5%, o que representa a maioria dos estabelecimentos da pesquisa. Portanto, fazendo-se uma média aritmética dos respectivos volumes de detergente empregados na lavagem dos veículos (0,1 L e 0,2 L), obtemos 0,15 L por carro. Estima-se, então, que são gastos 300 litros de  detergente semanalmente nos 40 lavajatos, para lavar uma média de 2.000 carros.

O alquilbenzeno sulfonado linear, matériaprima para a fabricação de detergentes, é tóxico para a vida aquática mesmo em concentrações muito baixas (Cunha et al., 2005). Uma concentração de 0,3 ppm já altera a condução de oxigênio através das membranas dos organismos aquáticos, prejudicando a depuração natural, e as águas que tenham uma concentração de detergentes superior a essa (0,3 ppm) ficam com gosto adstringente; além do mais, os fosfatos presentes nesse material causam a eutrofização de leitos estacionários. Tal fato fez com que o Comitê Econômico e Social Europeu (CESE) recomendasse em 2004 a utilização de produtos totalmente biodegradáveis e não-tóxicos na sua formulação, assim como um programa de educação aos consumidores visando à não-utilização excessiva desses produtos. A procedência da água utilizada nos lava-jatos da pesquisa é explicitada na tabela 4.

Tabela 4 – Procedência da água utilizada nos lava-jatos

Como podemos observar na tabela 4, a grande maioria dos lava-jatos pesquisados utiliza água subterrânea para as suas atividades. O restante compra água de carros-pipas, utiliza água da Companhia de Água e Esgotos do Estado da Paraíba (CAGEPA) ou armazena água de chuva para essa finalidade. Dos lava-jatos pesquisados, apenas um reutiliza para a lavagem de carros parte da água do seu efluente, após passar pela caixa de areia, sendo esse o único “tratamento” ao qual o efluente do lava-jato é submetido.

Pela tabela 5, observamos que dos 40 entrevistados 20% responderam que a poluição do meio ambiente vai depender da forma como se trabalha. Na opinião deles, trabalhando de acordo com os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes, utilizando caixas de areia, não deixando os esgotos correr a céu aberto e, principalmente, tendo cuidado com o óleo, os impactos não serão tão grandes. Para 35% dos entrevistados, as atividades dos lava-jatos poluem o meio ambiente por causa do óleo, principalmente, e também em virtude do detergente e outros produtos químicos utilizados. Baseados nos mais variados argumentos, 32,5% responderam que as atividades dos lavajatos não poluem. Da mesma forma, 5% disseram que os lava-jatos poluem pouco, 2,5% declararam que não confiam na reutilização da água tratada na caixa de areia por não terem conhecimento técnico da qualidade dessa água e 5% afirmaram não saber se os lava-jatos poluem o meio ambiente.

Tabela 5 – Opiniões sobre a relação das atividades dos lavajatos e o meio ambiente

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